Para a minha aselha pessoa:
A vida é uma valente porcaria. Porque existe sempre alguém que resolve tocar nos assuntos “proibidos”? Porquê?
E neste momento, é como se eu já não vivesse. Por momentos, deixo de respirar.
Estou assustada. Escrevo no papel, neste carta, palavras com tanto medo, que não seria capaz de as proferir a alguém. Sou fraca, por recorrer ao papel, mas se não o fizesse morreria ainda mais rápido, o que, vendo bem, até seria bom. Mas, se eu sou fraca por escrever estas palavras, sinto que as pessoas são, também, fracas e inúteis demais para me ajudarem, ou sequer para perceberem o que se passa à minha volta. Sinto nojo das pessoas. Sinto-me perdida.
Tenho medo. Tenho muito medo. Às vezes, lembro-me de tudo o que se passou. Lembro-me como tudo começou, e mais tarde, como tudo terminou. É uma sensação horrível. Quereres falar e não conseguires, talvez por não teres confiança nas pessoas. Talvez, porque és demasiado orgulhosa e teimosa. Porque és fraca. Sim, é isso mesmo. Porque eu sou demasiado fraca. Nunca fui capaz de enfrentar nada, sempre me tentei esconder, ou então, pensando que era melhor que outros, lutei para depois acabar sentindo-me demasiado culpada. Culpada pela minha própria derrota.
Olho-me ao espelho, e já não me conheço. Onde está aquela rapariga forte e lutadora? Onde está aquela rapariga que sabia mentir quando era preciso? Onde está aquela rapariga determinada? Não está.
Olho o meu corpo e sinto-me feia e gorda. Sinto-me tão fraca! Tão desajeitada, tão fútil, tão ignorante. Tenho medo, tenho medo que tudo isto não acabe. Neste momento, gostava de fazer uma limpeza ao cérebro e á memoria.
Agora que as lágrimas me percorrem a cara e o coração me está a apertar vou parar de escrever. Não. Não vou continuar a escrever esta carta desnecessária. Uma carta sem destino.
Um beijo nos pés,
sempre tua, Darcília Barros.