Prólogo
A morte... O que podemos dizer sobre ela?
Um assunto tão estudado, debatido e temido mas realmente não há nada de concreto que possamos esperar...
Especialmente quando a olhamos nos olhos. A maior parte das pessoas não tem tempo para o fazer, um ataque cardíaco, uma cabeça esmagada num acidente. É tudo tão rápido que quase não tem beleza nenhuma e nem sequer temos tempo de percebê-la.
Mas eu sou sortudo, eu olho neste momento para os olhos frios e escuros da morte e sorrio quando ela me abre os seus braços gretados de mãe carinhosa.
Levanto-me, vejo uma poça escorregadia de sangue e contrario o impulso de a contornar. Sinto o líquido quente a molhar-me os pés e tingir-me as meias de uma alegre cor vermelha, o cheiro nojento e adocicado do sangue espalhado nas paredes desta casa, sempre tão limpa e cuidada.
Fico ali algum tempo, em pé, sujo de sangue e em roupa interior á volta dos corpos dos meus filhos e da minha mulher, como o rei dos loucos.
Deito-me por fim á beira da minha esposa, como no fim de um longo dia e ponho-lhe a mão em volta da cintura como há tanto tempo não fazia.
Saboreio então o salgado e metalizado da minha arma. Contemplo os cabelos loiros dela, a sua boca vermelha, o peito sardento e a pequena cicatriz que ela tem no ombro e que aquele vestido deixa nua.
Com lágrimas nos olhos e tremores nas mãos, pressiono o gatilho.
Depois...
Nada.
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