segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Quando a chuva passar

A nossa relação começou como qualquer outra. Deixei de contar o tempo ao longo dos anos porque, a certa altura, já não fazia sentido. Mas lembro-me muito bem do medo que tinha, no princípio, de que te fosses embora. Afinal, nunca tive grande auto-estima. Gozaste muito comigo sobre isso, mas no final nunca me deixaste. Estiveste sempre lá para mim. E eu fui muito feliz.
         Infelizmente, chegou o dia em que descobri que algo tinha mudado. Onde estava a minha felicidade? O que julguei ser um dia mau, tornou-se em semanas e eu não parava de pensar no que tinha acontecido. Éramos as mesmas pessoas, certo? Talvez não. Havia algo de errado. Mas tu também o percebeste e tanto pensaste que te tornaste distante e te começaste a esquecer de ouvir as minhas preocupações banais. Depois, começamos a discutir, porque estávamos sempre em desacordo. Eu estava triste e tu estavas sempre chateado por tudo e por nada.
         Um dia, chegaste a casa mais cedo do que o costume. Eu estava a trabalhar na sala e fiquei bastante surpreendida, porque sempre adoraste o teu trabalho e conseguias dividir muito bem o tempo, de forma a sair do trabalho às horas certas para poderes estar em casa quando eu também estivesse.
-         Vou-me embora.
Não disse nada. Tentei arranjar qualquer outro significado escondido nas tuas palavras e não encontrei. Tu continuaste a olhar para mim durante alguns segundos e foste para o quarto. Só então percebi que me ias realmente deixar. Não havia qualquer tipo de expressão em ti para além da determinação de cumprir a decisão tomada e por isso, em vez de gritar contigo e desatar a chorar, fui ajudar-te a arrumar as coisas. Chorar não ia mudar nada. Não te ia fazer ficar.
No dia seguinte já tinhas as malas com o que era necessário para os primeiros tempos. Disseste que virias buscar o resto quando arranjasses um sítio mais permanente para ficar. Concordei com tudo. Estava demasiado concentrada em manter a compostura para discutir. Foste pôr as tuas coisas no carro e eu olhei para a nossa casa. Era demasiado grande para eu lá viver sozinha. Teria de arranjar outra.
-         Eu volto.
Não tinha reparado que tinhas voltado e assustei-me. Estavas com aquele ar de quem percebeu os meus pensamentos. Acenei. Havia esperança. Talvez um dia voltasses.
         Acenaste uma última vez de dentro do carro para o alpendre e eu acenei de volta. Tentei absorver cada segundo, para nunca mais me esquecer de ti. O teu pé pisou o acelerador e eu segui o carro com o olhar até que desapareceu, no fim da rua.
Nesse dia, prometi a mim mesma que ia esperar por ti. Decidi ter esperança nas tuas palavras. Ao longo do tempo, esquecemo-nos do que nos fazia felizes e esta era a nossa oportunidade de o relembrar. Se nunca mais voltasses, pelo menos teria esse conhecimento, para não voltar a cometer o erro de esquecer. Se decidisses que eu não te fazia feliz, aprenderia a viver assim e apenas te desejaria o melhor.
Mas voltaste e nenhum de nós voltou a esquecer a felicidade.


Anita P.P.

5 comentários:

Bea disse...

Mais uma vez tenho de te dar os Parabéns! Está lindo! Adorei... e tens alguma coisa para me contar?? Estou a brincar xD :)

Anita P.P. disse...

Muito obrigada!=)

Verónica disse...

Parabéns, tens uma escrita muito leve e fluída, o que agradável ler os teus textos até quando são sobre temas menos positivos.

Adoriabelle disse...

Sou da mesma opinião! ;)

Anita P.P. disse...

Obrigada! Fico muito contente por gostarem do meu texto e da minha maneira de escrever.